A repercussão da definição do Partido Social Cristão (PSC) em torno do nome do deputado federal Marco Feliciano para a presidência da Comissão de Direito Humanos e Minorias (CDHM) da Câmara dos Deputados foi intensa na mídia e redes sociais.
O assunto foi destacado em todos os telejornais das emissoras de TV aberta e nos principais sites e jornais do país, e contou inclusive com um artigo do próprio Marco Feliciano publicado no site da Folha de S. Paulo.
Nesse artigo, o pastor fala sobre as polêmicas declarações que o levaram a ser taxado como racista e homofóbico, e atribuiu à militância LGBTT a responsabilidade pela forma como suas palavras foram interpretadas.
“A fúria deles é por saber que questiono suas pretensões. Defendo a Constituição e ela precisaria ser alterada para aprovar suas lutas. Não se pode tratar naquela comissão apenas desses assuntos. É preciso isonomia. Outros grupos precisam de igual atenção”, escreveu o pastor.
Na entrevista coletiva concedida à imprensa imediatamente após a definição de seu nome, Feliciano rebateu as críticas implícitas dos jornalistas pelo fato de ser pastor evangélico afirmando que um dos maiores defensores dos direitos civis também era pastor, assim como ele: “Disseram ser da Idade da Pedra ou dos tempos de caça às bruxas a escolha de um pastor para presidir a Comissão de Direitos Humanos. Lembro que o maior defensor dos direitos humanos de todos os tempos foi um pastor: Martin Luther King. Não me comparo a ele, mas era também um cristão”, enfatizou.
Um dos maiores críticos da indicação de Feliciano ao cargo, o jornalista e apresentador Marcelo Tas voltou a chamar Feliciano de racista e homofóbico através do Twitter, e recebeu do pastor uma reação pacífica: “Marcelo Tas, Deus abençoe a sua vida também, e também o seu trabalho hoje e sempre”. A reação de Tas foi menos agressiva do que suas críticas iniciais: “Obrigado, pastor. Respeito sua opinião e os que o elegeram. Só penso que o Sr. não é a figura adequada para presidir a CDHM”.
Até o cantor David Quinlan se manifestou a respeito do assunto, dizendo que havia ouvido uma reportagem sobre o deputado em uma emissora de rádio e estava “surpreso” e “decepcionado” pela forma como Feliciano estava sendo tratado: “Não sabia que ela era tão tendenciosa assim. A luta é grande, mas saiba que tem um povo q acredita nos planos de Deus para o Brasil”, escreveu Quinlan.
A psicóloga Marisa Lobo também se manifestou dizendo que a seu modo de ver, era “hilário uma comissão dizer que luta contra discriminação e estar discriminando um deputado por ele ser evangélico. É pura perseguição”.
Entretanto, outras críticas foram feitas contra o pastor e sua indicação ao cargo. O jornalista e doutor em Ciência Política Leonardo Sakamoto publicou em seu blog no Uol uma crítica não apenas a Marco Feliciano, mas a todos os que se opõem às pretensões do movimento homossexual: “Por trás da imunidade parlamentar, escondem-se entrincheirados covardes defensores da discriminação, do preconceito e da intolerância. Deputados e senadores que bradam indignados mediante a tentativa de aprovação da lei que criminaliza a homofobia. Supostos representantes dos interesses do Sobrenatural na Terra que afirmam lutar pelo direito de expressarem suas crenças”, disse.
O deputado federal Jean Wyllys publicou num artigo reproduzido pela Folha de S. Paulo, uma nova crítica a Marco Feliciano e comentou a indicação do PSC: “Esse fato não é escandaloso –e eu não me oponho a ele– pelo simples fato de ele ser pastor. Se o deputado Marco Feliciano fosse um pastor identificado com a garantia dos direitos humanos e da dignidade das minorias estigmatizadas, não haveria problema algum e eu não faria qualquer oposição”.
Wyllys emendou dizendo que sua oposição se deve ao fato de Feliciano ser contrário às causas que ele defende: “Acontece que o deputado Marco Feliciano é um inimigo público e declarado de minorias estigmatizadas e tem um discurso público que estimula a violação da dignidade humana desses grupos”.
Marco Feliciano, em seu artigo na Folha, diz que a Comissão de Direitos Humanos não deve apenas atender às queixas da militância gay, mas também a outros setores da sociedade.
“Existem assuntos que caíram no esquecimento. Os brasileiros que estão aprisionados de maneira sub-humana em diversos países como imigrantes ilegais. A demarcação das terras dos quilombolas. O tráficos de mulheres e de órgãos. O atendimento das famílias dos autistas. Os portadores de necessidades especiais. Não basta aprovar leis, é preciso saber se estão sendo respeitadas. Por que a CDHM não questiona o Executivo sobre manter relações comerciais com um país que condena à morte pessoas por sua opção religiosa ou sexual, como o Irã? Essa comissão é muito mais importante do que discussões rasas. Peço a Deus sabedoria para levar adiante tão honrosa missão”, finalizou.
Leia abaixo, a íntegra do artigo “Ditadura gay e direitos humanos”, do pastor Marco Feliciano:
Dias atrás, o deputado Gabriel Chalita (PMDB-SP) foi sugerido para o Ministério da Ciência e Tecnologia. Houve protestos de alguns da comunidade científica pelo simples fato de ele ser católico praticante e seu nome foi vetado. Agora é a vez de um pastor evangélico ser questionado para presidir a Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) da Câmara dos Deputados. Perseguição religiosa?
A presidência da CDHM, pela proporcionalidade entre legendas, ficou com o meu partido, o PSC. A indicação do meu nome gerou um furacão de manifestações dissimuladas pela internet por parte de militantes da comunidade GLBTT (gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais). Algumas me acusaram de ser racista e homofóbico.
Tudo teve início quando postei na internet que os africanos são descendentes de um “ancestral amaldiçoado por Noé”. Referia-me a uma citação bíblica, segundo a qual o filho de Noé, após ser amaldiçoado pelo pai, foi mandado para a África. A maldição foi quebrada com o advento de Jesus, que derramou seu sangue para nos salvar. Não usei a palavra negro, pois me referia a um povo definido por uma região e não pela cor de sua pele.
Sou pastor e prego para pessoas de todas as etnias. Nunca, nem antes nem depois desse episódio, fui considerado racista, inclusive porque corre em minhas veias sangue negro também. Amo o continente africano. Sou querido pelo povo de Angola, onde fiz trabalhos.
Sobre homossexuais, minha posição é mais tolerante do que se pode imaginar. Como cristão, aprendi no Evangelho que somos todos criaturas de Deus. Nunca me dirigi a nenhum grupo de pessoas com desrespeito. Apenas ensino o que aprendi na Bíblia, que não aprova a relação sexual nem o casamento entre duas pessoas do mesmo sexo. Fora isso, a salvação está ao alcance de todos. Essa é a minha fé –só prego o amor e o perdão.
No entanto, esses militantes GLBTT rotulam como homofóbica qualquer pessoa que discordar de suas posições. Acusam de incitação à violência, o que qualquer pessoa isenta sabe que não é verdade. Mas, jogada ao vento, essa mentira causa estragos à imagem do acusado perante a opinião publica. Vivemos uma ditadura gay.
No ano passado, tentei participar de um seminário organizado pela CDHM e presidido pelo deputado Jean Wyllys. Apavorei-me com o tema: diversidade sexual na primeira infância. Fui recebido com palavrões pelos militantes GLBTT. Foi me dado um minuto para falar, mas não consegui. A militância não permitiu.
Foi desesperador ouvir dos que ali estavam que se um menino na creche, na hora do banho, quiser tocar o órgão genital de outro menino não poderia ser impedido. Afinal, segundo eles, criança não nasce homem nem mulher e sim gênero e se descobre com o tempo. Se forem impedidos na primeira infância, sabe-se lá o que pode acontecer…
A fúria deles é por saber que questiono suas pretensões. Defendo a Constituição e ela precisaria ser alterada para aprovar suas lutas.
Não se pode tratar naquela comissão apenas desses assuntos. É preciso isonomia. Outros grupos precisam de igual atenção.
Existem assuntos que caíram no esquecimento. Os brasileiros que estão aprisionados de maneira sub-humana em diversos países como imigrantes ilegais. A demarcação das terras dos quilombolas. O tráficos de mulheres e de órgãos. O atendimento das famílias dos autistas. Os portadores de necessidades especiais. Não basta aprovar leis, é preciso saber se estão sendo respeitadas.
Por que a CDHM não questiona o Executivo sobre manter relações comerciais com um país que condena à morte pessoas por sua opção religiosa ou sexual, como o Irã?
Essa comissão é muito mais importante do que discussões rasas. Peço a Deus sabedoria para levar adiante tão honrosa missão.
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